22 de junho de 2010



Eu tento descobrir onde fica exatamente a dor,
mas desisto, porque tudo dói.

Estou cansada de viver como se já fosse uma pessoa adulta e madura.
Gostaria de voltar a ser criança,
uma garotinha de seis anos que caiu de bicicleta,

e corre chorando pra cozinha, onde minha mãe me socorreria,
me diria que tava tudo bem
e daria um beijinho pra sarar o dodói..
Essa é uma das coisas que não me ensinaram quando eu cresci,
como lidar com as dores que não saram com um beijinho..

Hoje o acaso me levou de volta ao cenário
de uma das maiores dores que eu vivi.

Quase 6 anos já passaram.
Meu coração as vezes nem sente mais. É verdade.

Andei por aquele lugar calmo, ouvindo o vento batendo nas folhas..
E lendo os nomes daquelas pessoas que perderam suas vidas,
umas cedo, outras mais tarde.

Não consegui ter lembrança de que lugar se encontrava o túmulo dela.
Pedi ajuda a um funcionário do cemitério, que me ajudou a encontrar.
A placa tinha sido trocada, tinha uma foto linda dela lá em cima.
E flores amarelas, recém-colocadas. Ainda cheiravam.
Mas senti o cheiro e o gosto de tanta coisa. De um passado não curado.
De uma dor que nunca consegui comunicar a ninguém.
Ela foi embora tão cedo. Nunca pude entender.
Me sentei ao lado das flores e fiquei pensando em como tudo aconteceu.

Deus ou a vida, ou o destino, alguma força maior.
Não quis que ela continuasse.

Pensei comigo que ela foi privada de se formar, de casar,
de ser mãe, de viajar pra fora do país.

De tantas coisas que eu penso em ainda viver,
e queria muito que ela estivesse do meu lado.

Mas o que consola meu coração é saber que ela foi poupada
de perder as pessoas que ela ama.

De ver amores indo embora, sem maiores explicações.
Ela foi poupada de ter sonhos frustrados.

Foi poupada de chorar a morte da melhor amiga.
Ela era feliz demais pra continuar aqui.

Onde tudo é dor, onde tudo peca por um triz.
Prefiro acreditar que ela esteja num jardim feliz,
sorrindo e pedindo a Deus pra olhar por mim.

Não tem sido fácil ultimamente.
Mas eu preciso continuar. Por que eu ainda estou aqui.

Porque a vida, Deus, o destino, não sei.
Alguma coisa ainda acha que meu tempo aqui não terminou.

Só queria dizer pra ela que sinto saudades, muitas.
Que adoraria poder vê-la, encontrá-la de novo.

Talvez um dia, em algum lugar!
'Você marcou a minha vida, viveu, morreu na minha história.
Chego a ter medo do futuro, e da solidão que em minha porta bate.'

13 de junho de 2010

"Tinha terminado, então. Porque a gente,
alguma coisa dentro da gente,
sempre sabe exatamente quando termina (...)
Uma vontade de cuidar melhor de mim,
de ser melhor para mim e para os outros.
De não morrer, de não sufocar,
de continuar sentindo encantamento
por alguma outra pessoa que o futuro trará,
porque sempre traz, e então não repetir
nenhum comportamento. Ser novo..."

- Caio F. Abreu