26 de junho de 2009



Ela havia chegado tarde aquela noite, devia ter tido um dia cheio.
Na verdade o dia nem devia ter sido tão aterefado assim.
Mas é que quando a gente tem algo martelando no coração,
tudo parece mais pesado. Mais demorado.
Estacionou no mesmo lugar de sempre,
Na verdade ela sequer notou a vaga de garagem ao lado também ocupada.
Pegou o notebook no banco de trás e saiu do carro,
decidida a tomar um chocolate quente,
colocar os pés pra cima e 'sumir' por algumas horas,
ouvindo música, e choramingando se fosse preciso.
Subiu as escadas sem perceber que a luz do apartamento estava acesa.
Mas o que tem demais, na verdade ela quase sempre deixava a luz acesa.
Quando chegou na porta do apartamento,
um cartaz redondo todo decorado,
dizia assim:
Por favor, feche os olhos e entre em silêncio.

De início, acho que ela entrou em pânico,
ninguém tinha as chaves do seu apartamento.

Até teve um dia, mas Mário estava morando na Itália
há 2 anos e meio
e não tinha planos de voltar.
Será que alguém encontrou a cópia das chaves
que ela havia perdido no mês passado?

Decidiu enfim parar ali, não ia adiantar tentar adivinhar,
o que restara apenas
era decidir se queria ou não
ver o que estava a esperando.

E decidiu entrar. Eu na verdade não entendo com que confiança ela fez isso.
Mas fez.

Ela abriu a porta, e entrou devagar,
por incrível que pareça, de olhos fechados.

Era perfeito. Da maneira como havia planejado.
O gravador de voz então disse em alto e bom som:
Abra os olhos, e estoure um balão.

Ela abriu os olhos,
e viu a sala inteira decorada com balões vermelhos de coração.

Precisava estar filmando o rosto dela naquele momento.
Deve ter tido uma síncope.

Mas obedeceu. Estourou um balão com as unhas grandes e vermelhas.
De dentro dele caiu um papel escrito assim:
'Se quer continuar a brincadeira, vá até a geladeira,
pegue a garrafa de vinho e duas taças, espero-a no quarto.'
E para minha surpresa, ela não foi ao quarto ver do que se tratava.
Pegou o vinho, e as taças.
E seguiu para o quarto que na porta fechada, tinha outro cartaz:

'Bem vinda a noite inesquecivel de sua vida.'
Nesse momento, ela hesitou um instante,
deve ter pensado em ligar para uma amiga,

e certificar-se de que alguém viria salvá-la, caso estivesse em perigo.
Mas o que eu não poderia nunca imaginar, é que ela não pareceu temer.
Por mais ameaçador que fosse, ela não desistiu de descobrir.
Abriu a porta, e sorriu surpresa ao encontrar-me atrás da porta, parado de pé.
Imagino que deva ter pensado muita coisa,
mas só conseguiu dizer uma: '-Você?'

A resposta também não podia ser outra. '-É, eu voltei!'
Acredito que ali, deve ter se passado muito por sua cabeça,
como éramos felizes, a despedida, a separação, a nova vida de ambos,
mas a certeza antes tão vaga, agora estava presente, ela não me esquecera.
E eu estava ali afinal, de volta pra buscar tudo que eu havia deixado pra trás.
Nos abraçamos e nos beijamos, como se fosse o último dia de nossas vidas.
Depois ela me perguntou se era definitivo,
e mesmo que não fosse, diante daquele sorriso,

daquele olhar que pedia eternidade, tudo se tornara definitivo.
Não havia como não ser.

E afinal, eu estava bem ali, diante dela,
diante de tudo que eu mais quis na vida.

E bem ali, tudo entrara pra eternidade.
E nos amamos, perfeitos, - não curados,
- mas como se nunca houvesse havido ferida
.


Publicado no Recanto das Letras em 03/08/2009
Código do texto: T1733735
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(Citar a autoria de Janaína S. e o blog http://maiisum.blogspot.com/)
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7 comentários:

~*Rebeca*~ disse...

Janaina,

Que texto mais lindo... emocionante!

Surpresas que o coração revela, sempre são lindas.

Beijo grande, menina linda.

Rebeca

-

Francisco disse...

Jana.
O texto é perfeito.
Dá para imaginar um reencontro assim, com uma surpresa deste tamanho para ambos.
Se blog tá demais!!
Beijão!

~*Rebeca*~ disse...

Abandonar? Tem nem perigo!

;)

Beijo grande, Janaina linda.

Rebeca


-

Sara disse...

Re(encontros) sempre são e serão e-ternos.
Beijos, Janaína! :)
Ame sempre... Fique com Deus!

Glau Ribeiro disse...

Nuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu, Jana!

Eu adoreeeeeeeeeeeei o happy end! Ai ai. Até suspirei por aqui. hahaha!

Fui desenhando cada linha do teu conto e imaginando cada detalhe. Aqueceu o coração e agradeço por isso.

Beeeeeeeeeeejo trenzim lindo meu!

Cris Carvalho disse...

flor, tem um selo pra vc lá na minha casa...

um beijo

.

Luuh* disse...

Eu não tenho blog nem nada, mais gosto de ler e axei o seu por ai rs
me apaixoneei *--* os textos são lindos, e desde então eu sempre venho aki...
Parabéns viu?!
beijinhos!