27 de junho de 2011

A aliança no bolso.



"- Se acalma, essa talvez tenha sido 'a aliança no bolso', talvez você precisasse..."
Secou as lágrimas e olhou a amiga. Ela tinha razão, talvez fosse a aliança no bolso, e no fundo ela precisava mesmo encontrá-la. Já havia se passado muito tempo desde que não se viam mais um no outro, porém ela era incapaz de confessar que tinha mais medo de não ser mais dele, do que ser infeliz ao seu lado. Mas chega uma hora que a vida decide por si, e nós, nada podemos fazer além de driblar nossa urgência por explicações e lógicas que tragam algum sentido para a dor. Não existe sentido. Só o que existe é a dor, sem a menor explicação.
Ela sente pelo que ele fez, pelo que lhe disse, e por não ter se arrependido. E mais que a dor de todas as suas atitudes imbecis, é a dor de ver sua intenção em machucá-la. Ela que fez tanto. E não sobrou nada. Chora novamente, e pergunta a amiga se é justo ser assim. Nos doarmos em essencia e o retorno ser apenas o buraco que ficou.
Pra onde vai o amor quando tudo acaba? Temos o direito de saber?
Podia ser tanta coisa, qualquer coisa dessas coisas que vem e que passam. Mas quis ser amor. E eu passaria o resto da vida me perguntando, pra onde vai o amor quando tudo acaba? Foram tantas tentativas, tantos sussurros aos céus pra que algum milagre mudasse o rumo das coisas. Que alguma magia os fizesse retornar ao que foram um dia. Que um toque de qualquer-coisa-não-sei-quê o trouxesse de volta pra casa. Mas nada aconteceu.
Ela se lamenta, chora e pergunta onde tudo se perdeu, onde exatamente deixou de ser.
Eu perguntaria, será que um dia foi? Será que ele foi todas essas coisas que ela sempre viu nele, ou não passava de uma projeção de seu desejo por algo que precisava encontrar? Algo que ela precisava enxergar para desmentir suas teorias de que o amor se perdeu no tempo.
Eu diria que ela inventou e reinventou ele e a esse amor, tantas e quantas vezes foi preciso. Todas as vezes em que seu coração titubeou, ela reiventou e encontrou razões para não desistir. Porque no fundo, pra ela valia a pena. Afinal, quem mais iria cantar Jorge Ben Jor enquanto fazia as rabanadas mais doces do mundo no café da manhã, quem mais iria dividir uma tapioca doce e uma fanta na praia. Quem mais lhe explicaria as teorias cientifico-filosoficas do mundo, a origem dos partidos politicos e como funcionava a tabela de pontos do campeonato brasileiro. Quem além dele, ouviria a rádio educativa no fim da tarde, torcendo que tocassem alguma de João Bosco. Quem além dele faria amor repetidas vezes antes de dormir de conchinha em noites quentes sem ventilador. Quem mais riria da sua pronúncia do 'r', dos seus cabelos ao acordar, do seu café sempre ruim. Quem mais conseguiria fazê-la ter um aceso de riso com cócegas que ninguém sabia fazer igual. Quem além dele conseguiria fazê-la sentir-se a menina mais imatura e a mulher mais forte do mundo ao mesmo tempo. Quem mais conseguiria derreter seu coração no cair de uma lágrima de desculpas. Quem além dele marcaria sua vida com os melhores dias, com as melhores noites e histórias incríveis para contar pra sempre. Quem mais a faria sonhar de novo, com filhos, casa com jardim e cachorros. Com video-game de madrugada depois de uma transa café-com-leite só pra não esquecer que eram dois. Quem mais a enlouqueceria de preocupação com 18 horas de sono sem atender o celular. Quem mais a faria sentir que o mundo podia parar de girar se algo o acontecesse. Quem mais? Quem além dele destruiria tudo que foi construído em anos, em troca de uma aventura, que ninguém sabe se valerá a pena. Quem além dele trocaria a certeza eterna e intocável de que ela sempre estaria por perto, não importando a kilometragem que precisasse correr. Quem mais jogaria tudo pro alto sem pesar, sem dor, sem lamentações e na mais perfeita paz. Quem mais escolheria perder a única certeza. Quem além dele? Ninguém. Por que só alguém que foi a razão de tanta felicidade poderia causar tanto rancor.
Quanto a ela? Ela ainda chora. Porque descobriu que todos os amores do mundo têm prazos de validade e o seu estava vencido. A hora havia chegado. Era tarde. Seu coração havia partido... pra outro lugar.


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8 comentários:

Anônimo disse...

E quem abriria mão de ver em você o que existe de mais bonito no mundo, esse sorriso. Você é linda quando feliz. O amor acontece sempre de novo. E um dia não tem erro.

Daniela Nogueira disse...

Jana, que texto perfeito! Você escreve muito bem. Parabéns mesmo! Vou divulgar no Face. :**

Dane.

Wellington Duarte disse...

Às vezes o amor não escolhe por onde começar a acabar, ele apenas acaba, e logo surgem outros, e um nunca omite o outro, um acrescenta ao outro. É como uma dica da natureza de que os erros podem se transformar em novos e bonitos amores!

Glau Ribeiro disse...

"Chega uma hora que a vida decide por si..."

Bem por aí, Jana. Ela decide o que nosso coração não consegue confessar.

=)

Se cuida, amore!

Anônimo disse...

Me fazendo chorar!!! (logo eu ¬¬)
...E mais ainda por saber que essa amiga sou eu!!!
Mas amizade é assim ne... Em todos os momentos, apesar de eu preferir os mais alegres, são os tristes que nos unem e nos deixam mais fortes!!!
(Tahiná Sá)

Anne xD disse...

Não uma parte específica do seu texto pra citar, afinal, me identifiquei com ele por completo.
Tdas as incógnitas e dúvidas e porquês eu sei, e sinto...
e só digo que quanto à ela, ah, "ela ainda chora" e a cada lágrima que cai, a dor só aumenta, não há um caminho de volta. As escolhas foram feitas e não tem como voltar atrás mais... o que nos resta é seguir em frente, e tudo um dia passa. E isso vai passar!

Você é maravilhosa...
e eu "odeio" qdo vc escreve!!
rsrsrs

Eliziane disse...

Lindo texto! Parabéns!
Eliziane
www.genuinoblogdaeli.blogspot.com

Késia Maximiano disse...

Pois é, voltei a postar... Uma tentativa de não me perder de mim mesma! rs

Vc q tb anda sumida né? rsrs

Beeijos...